sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Vida de indecisão no novo mundo

Infelizmente, a vida é mais que amor.
É ser esquartejado pela dor.
Ter seu coração partido pela indecisão.
É não saber pra onde vai
Nem o que quer.
E aí então, se a vida não tinha começado
Vai ter que virar poço de luta.
Um dia, acordar desesperado.
Outro dia, trabalhar feito puta.
O mundo se tornou tão complexo
Que, ao ver o seu reflexo,
Se escondeu de medo.
E, sem saber o que fazer,
Veio cair nos meus braços.
Eu, abalado pelo mundo,
Abracei a mim mesmo.
O mundo é conectadamente solitário.
É minusculamente planetário.
Parece ser bem menos que plutão,
Mas não se preenche mais com paixão.
O mundo hoje se preenche com trabalho.

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

O nascimento de Mariama

Sob a luz do luar, ela sai para mais uma noitada.
Pretende antes se embebedar do que realmente ser amada,
Mas ser amada ela poderia...
Ela, de corpo nem tão maduro assim
E de cabeça de adulta,
Entra num novo personagem.
É um mundo totalmente novo ao entrar no clube.
A pista de dança aberta é iluminada pela lua,
Mas todo o foco da luz parece estar em cima dela.
E chama a atenção dos homens.
Ai, céus. Deixa os queixos caídos.
Ela nunca foi a menina mais disputada.
Talvez por não ser devidamente valorizada...
Mas ela possuía beleza e esta transbordava.
Pingava e exalava dela mais que suor no corpo de qualquer um.
Seus cabelos negros cacheados indecifráveis.
Obra divina? Poder demoníaco? Alguma Bruxaria?
Ora, posso dizer que ela lavava todo dia.
Estava tão feliz essa semana
Que a chamarei de Mariana.
Ansiosa para chegar a hora da festa,
Ela não deixou passar a euforia que sentia.
Quando entrou na pista de dança,
Se submeteu ao instinto que lhe grita.
"Dança, Mariana".
"Rebola, Mariana".
"Olha, Mariana".
"Pisca, Mariana".
"Sorria, Mariana".
E avistava um rapaz ou outro.
Eles não tinham como não se interessar.
Na verdade, cabia a ela apenas escolher,
E isso ela sabia fazer.
Via um, puxava pra dançar e levava pro canto.
Trinta segundos de papo e um beijo suave
Daqueles que só quem já ficou desnorteado sabe.
Largava e se soltava.
Voltava pra pista. Mais um alvo marcado.
Mesmo procedimento.
Beijo molhado, suado e inesquecível.
Ao longo da festa, ela arrebatou a consciência de mais cinco caras.
Seus beijos eram simplesmente épicos.
Suas amigas, que nunca tinham coragem de tomar frente de situações como estas,
Ficavam no canto da festa.
Trocavam olhares com outros rapazes, curtiam a música
E sempre riam do jeito que Mariana chegava.
Cada vez mais perdida, com os cabelos bagunçados,
Os olhos de ressaca e sono e cambaleando ainda mais nos sapatos altos.
Mariana ficava um pouco constrangida quando suas amigas começavam a rir,
Mas ela era uma mulher independente demais para sentir vergonha.
Era forte demais para se sentir abalada.
Era confiante demais para se sentir inferior.
Na verdade, Mariana poderia simplesmente rir de suas amigas.
O fato é que isso não importava.
Nada conseguia parar o ímpeto de Mariana.
E quem achar que ela tá errada, não sabe o que é mulher de verdade.
Os rapazes com quem ela ficava sentiam saudades dos beijos.
As mulheres por quem ela passava sentiam inveja.
E ela rodopiava no salão,
Como alguém que não liga.
Com seu copo empanturrado de álcool na mão
E uma cabeça já quase nada sóbria.
Passavam por aí e acolá os comentários e teorias.
Conheci o nome dela assim.
Diziam que tinha mesmo que ser Mariana,
Pois "Mari não ama".
Diziam que ela beijava a mesma boca duas vezes
E, os mais perturbados por não conseguirem afeto da parte dela,
Diziam que ela tinha apagado esta parte e se alimentava do paixão dos outros.
Uma mulher não pode ter uma pausa desse tipo de coisa?
Bom,
A verdade é que isso já tinha deixado de abalar a moça.
Por um motivo ou outro, e isso poderia até ser o próprio efeito do álcool,
Ela se sentia bem fazendo o que fazia.
As pessoas mais incomodadas estavam claramente com inveja.
Por isso, passavam a vê-la como sem compaixão.
Pois bem, foi numa festa qualquer que ela conheceu.
Seu olhar era calmo e selvagem.
Seu dançar era suave e sensual.
Seus toques eram macios e excitantes.
Um beijo e a consciência dela foi pro espaço.
A moça sentiu o que nunca tinha sentido naquele momento.
Abriu os olhos meio abestalhada e o viu se afastar.
Se lhe sobrara fôlego naquele momento, este desaparecia.
Minutos depois de se recuperar, viu tudo acontecer de novo,
Mas não consigo.
Seu par beijava outra moça.
E Mariana sentou no cantinho e se deixou abalar.
Ao chegar em casa, sentou no sofá.
Ainda sem chão, olhou pela janela.
Um mar de escuridão,
Postes pareciam luz de velas.
Entrou no banheiro e olhou-se no espelho.
Ao lavar o rosto, se ergueu e proferiu:
"Mari também ama".
E foi assim que testemunhei
O nascimento de Mariama.

domingo, 21 de setembro de 2014

Os cantos

Todos os apertos no peito me trazem o sinal.
A sua falta é inevitável.
Os filmes me preenchem por duas horas.
As músicas me esvaziam pelo resto do dia,
Enquanto meus olhos querem se encher de lágrimas
Que são desfeitas no simples exercício de canto.
Nada alivia mais que cantar,
E o próprio canto me entristece.
Me lembra do fardo que carrego
Ou de tudo que não carrego,
Pois nada tenho.
É o canto que me guia
A lugar nenhum.
É onde eu encontro minha agonia,
Mas ainda me sinto na zona de conforto.
Um conforto nada confortável,
Cheio de dor, lacunas vazias e necessidades sem sentido.
É o canto que me traz as tuas promessas,
Com a voz que diz não esquecer.
É a mesma voz que vira as costas pra mim no dia seguinte.
Por alguma razão, parece que as sinfonias sempre acabam antes de amanhecer,
E é por isso que sinto sua falta quando acordo.
Quando eu volto pra ti,
Venho cantando, seja a música que for,
E tu já me entendes.
"Canta aquela que a gente sabe".
Eu não consigo me acostumar com esse teu jeito de me entender.
Não consigo deixar todas essas coisas passarem
Com tudo que está acontecendo comigo.
Eu me sinto apertado, no canto do quarto escuro.
Que decisão tomar?
Eu nunca soube.
É por isso, e só por isso, que volto pra ti com os mesmos cantos
Como se eu fosse um passarinho que nunca aprendeu a voar.
Um passarinho que sempre vai voltar.

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Pegar ou largar

Oh, meu amor.
Você me chega no dia frio,
Me causa logo um arrepio
Pra depois trazer a dor.
Chega na hora mais sombria,
Quando eu estou bem confuso,
E me agrada com lembranças gostosas.
Você vai nos completando com palavras,
Me alegra e me diverte à beça,
Quer sempre novos desafios.
Tudo parece tão limpo e harmonioso.
Tudo parece tão cheiroso
Que, em meus olhos, caem lágrimas de alegria,
Pois se isso eu tivesse todo dia,
Eu não seria um desalmado.
Não seria apenas um apaixonado.
Seria um homem certamente realizado.
Mas se na manhã seguinte
Tu já não estás na minha cama,
Eu já duvido se tu me amas.
Me manda um cartão postal.
Me manda flores.
Me demonstra que não é por querer,
Pois viver com tuas promessas de fim de noite
É um peso desconcertante.
E se tu me chegas com palavras bonitas,
Fingindo mil coisas,
E não cumpres nosso amor,
Ói ói.
Se queres só me iludir, não adianta me querer.
Eu já não quero mais me enganar.
Agora é pegar ou largar.

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Borboleta

Borboleta quando voa
bate que faz furacão
mas quando ela fica a toa
faz bater um coração

Como planta sou solitário
para poder ter uma paixão
com uma borboleta pareço otário
e caio de novo no chão

Quem dera tornado aqui viesse
e me levasse escondidinho
e o tornado ainda me fizesse
acompanhado de um soldadinho

Borboleta quando a toa
bate que faz coração
mas quando ela voa
foge com o furacão.

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Um amor de vidro

Erro de um homem tolo
É achar que sua vida real e simples,
Sem nenhum tipo de magia ou intervenção sombria do destino,
Vai acabar como um filme de romance.
O amor que lhe tinhas antes,
Agora já deve ter se esquecido.
E tu, que carregas no peito o mesmo e velho coração partido,
Espera sempre, ao por do sol, o mesmo amor.
Mas este é efêmero e feito de vidro.
O mundo chegou perto e ele não suportou.
Ele foi desfeito e atropelado.
Ele se quebrou.

domingo, 7 de setembro de 2014

Amaria

Se os tempos não fossem tão curtos.
Se meus hábitos fossem menos noturnos
E os dias fossem eternos,
E nossas risadas não durassem horas seguidas,
Umas milhas não nos separariam.
Nossas palavras não se confundiriam.
Dos nossos olhares, ninguém duvidaria
Quando eles se encontrassem na Rua da Bahia
E a natureza risse em harmonia,
A lua enchesse de alegria,
A rua acalmasse todo dia,
O céu caísse em fantasia,
O mundo rodasse em eterna poesia.
Se não tivesse a voz que me joga pra cima,
Que se destaca entre 200 pessoas,
Que me ouve e chora comigo,
Mas que, no final da noite, me abre um sorriso,
O que eu,
O que você faria?
Pra lua, cantaria.
Com outras, sonharia.
Mas nenhuma delas eu jamais sentiria
Do jeito que sinto agora.
Eu sinto mesmo, sem demora.
Que eu a Maria.

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Um homem francês

Era uma vez
Um homem francês
Que era amado
Só daquela vez.
Um homem francês
Que perdia seu lado
E sua consciência.
Que não sabia o peso de sua existência.
Era uma vez
Um homem francês
Que queria ser amado
E amado era
Até o amor ser finalizado
Na primavera.
E se vinha uma outra estação,
O que o homem francês faria?
Murcharam as flores e seu coração.
Sumiram a mulher de verde, a Elizabeth e a Maria.
E por uma vez,
De vez,
Assim foi sua vida.
Um homem francês,
Que queria ser amado,
E que acabou enforcado.
Um homem francês
Que se acabara de vez.