quinta-feira, 31 de julho de 2014

Servir

Se me chamarem,
Servirei com ódio.
Nenhuma compaixão para com meus companheiros.
Nenhuma consideração para com meus inimigos.
Se me chamarem,
Se preparem.
Não vai ter abrigo
Que me pare
De cometer uma farra de mortes.
Brincadeiras com a sorte
Ao ver uma bandeira hasteada.
Se me chamarem,
Se preparem para ver
O desprezo que ninguém nunca sentiu.
Uma maldade que dominará mais de um ser
No seio amável do nobre Brasil.
E se fores vesgo,
Vai assistir de camarote,
Pois providenciaste mais dez mil mortes
Com a ideia da servidão.
Ora, se me chamarem,
Esqueçam tudo que um dia já fui.
Num caminho sem volta entrarei
E meu futuro, não sei quem possui.
Mas meus olhos vermelhos de sangue verei,
Ardendo em fúria antes de um suicídio.
Verão que no horizonte mando nascer
E trago pra terra mais um genocídio.

segunda-feira, 28 de julho de 2014

Noite

Toda noite,
Antes do adormecer me tomar conta,
Em mente me aparece,
Em meio ao silêncio e as sombras,
A criatura que já rondava antes de nascermos
Toma conta do meu quarto.
E eu, deitado em plena insônia,
Com minhas dores sentimentais,
Sempre deixo ele me levar.
A chuva me molha o rosto
Debaixo do meu cobertor.
Toda noite,
Antes do adormecer me tomar conta,
Eu tomo conta da minha solidão,
Que para nada me serve,
Mas que jamais me abandona.
E ironicamente ocupa os espaços deixados na minha alma
Com vazios intensos e repugnantes
Que me fazem perder de vista minha própria consolação.
Ora,
Não basta a criatura me azucrinar com seus poderes sombrios e espirituais,
Pois, toda noite,
Antes do adormecer me tomar conta,
Ela chega e sempre fica lá.
Ela sabe onde me encontrar
E toma conta de mim.
Me enche de sombrio elixir.
Com fúria e solidão, preenche meus vazios
Apenas pra me abandonar.
E, num outro dia
Me trazer tudo outra vez.

domingo, 27 de julho de 2014

"Evolução"

O tempo foge da realidade.
O ser vai envelhecendo.
Meu psicológico difere da idade.
E minha complexidade, vai decrescendo.

Com pensamentos sempre conturbados,
Já deixei de ser uma pessoa útil.
Depois de mais de 300 anos passados,
Sou o mesmo cavalheiro fútil

E me amarga os olhos e a alma.
Perdi o tempo, e foi-se junto a calma
Que um dia tive com clareza.

Me perdi de quem eu era, com certeza,
Quando, pelo pescoço, fui pendurado.
Erro inocente de um ser cego e apaixonado.

segunda-feira, 21 de julho de 2014

O passado mente

Hoje, que amargura é essa pelo hoje? 
Nesses nodosos tempos, jovens catam o antigamente.
Não vivem, buscam.
Sempre atrás do diferente. 
E é por isso que os bares pebas, os quintais sem grama, os batons sem marca são,
ultimamente, 
um refúgio do retro chique, ao qual os de minha idade pregam com tranto friquití,
que me levam num mergulho besta e avacalhadoramente bom
para o presente.

quarta-feira, 9 de julho de 2014

Pressão

Naquele tempo, as conversas eram mais duradouras,
Os sentimentos eram mais sinceros.
As brigas não queriam dizer nada.
O amor as superava
E começam novos objetivos,
Novas necessidades.
Gritos de solidão jogados no ar
Para alguém que não mais queria ouvir.
"Deixa de pressão", eu sempre escutava.
Brigas constantes e reconciliações automáticas.
Risos na madrugada,
Mas a noite sempre começava mais tensa.
Forcei minha voz da rouquice à mudez
Para não mais teres que ouvi-la.
Esperançosa, teimaste em me escutar
E quando minha loucura chegou ao estopim,
Não aguentaste.
O abandono se seguiu
E me fez um louco desolado,
Cego e ignorando a solidão que me assola.
Eis que, um dia, tomo conta
De que me encontro num vazio espiritual
Que me devora com veneno letal,
Que é tudo o que eu menos queria.
Não há mais motivos para otimismo,
Nem motivos para poesia.
Não há mais motivos para estudantes,
Profissões e hipocrisia
Não há mais futuro à minha frente,
Pois, minha frente, eu já não consigo enxergar.
E outras vozes vêm em minha cabeça
E me vem a atormentar.
"Nunca vai te perdoar. Nunca vai te perdoar".
Me sufocam assim o coração
Que, num suspiro final, me sussurra:
"Deixa a depressão"

quarta-feira, 2 de julho de 2014

Heroi

As palavras se desenham na mente
E o heroi trata de proferi-las sem freio.
Enquanto todos conseguem avistá-lo perfeitamente,
Quem vos escreve entra em zona de completa dúvida.
É este que deve ser mesmo endeusado:
Uma figura que tem tantos erros como nós?
É vista como necessariamente superior
Enquanto não é nada mais que igual a qualquer um.
Um heroi que mostra carisma e que ajuda
Mas mostra ganância e egocentrismo.
Que quer ser carinhoso e amigo
Mas luta sem razão,
Sem perceber que mudou a vida das pessoas ao seu redor
Para pior
Por erros fúteis e evitáveis.
Um heroi que gosta das músicas fofas
E gosta de cantar junto,
Mas atira sua arma sem saber o que isso quer dizer.
Se injeta com o pior
E não para.
Mostra o exemplo errado.
Nunca quis ser um exemplo,
Mas sempre foi seguido.
Um heroi cheio de frases e conhecimento,
Que sabe muito e muito fala
E que ninguém entende,
Mas admiram seu falar bonito.
Um heroi que sonha muitas coisas,
Não levanta para realizar nenhuma,
Quebra os corações mais dourados,
Apunhala o seu próprio
E deita para virar um mito,
Merecendo ou não.