quarta-feira, 24 de setembro de 2014

O nascimento de Mariama

Sob a luz do luar, ela sai para mais uma noitada.
Pretende antes se embebedar do que realmente ser amada,
Mas ser amada ela poderia...
Ela, de corpo nem tão maduro assim
E de cabeça de adulta,
Entra num novo personagem.
É um mundo totalmente novo ao entrar no clube.
A pista de dança aberta é iluminada pela lua,
Mas todo o foco da luz parece estar em cima dela.
E chama a atenção dos homens.
Ai, céus. Deixa os queixos caídos.
Ela nunca foi a menina mais disputada.
Talvez por não ser devidamente valorizada...
Mas ela possuía beleza e esta transbordava.
Pingava e exalava dela mais que suor no corpo de qualquer um.
Seus cabelos negros cacheados indecifráveis.
Obra divina? Poder demoníaco? Alguma Bruxaria?
Ora, posso dizer que ela lavava todo dia.
Estava tão feliz essa semana
Que a chamarei de Mariana.
Ansiosa para chegar a hora da festa,
Ela não deixou passar a euforia que sentia.
Quando entrou na pista de dança,
Se submeteu ao instinto que lhe grita.
"Dança, Mariana".
"Rebola, Mariana".
"Olha, Mariana".
"Pisca, Mariana".
"Sorria, Mariana".
E avistava um rapaz ou outro.
Eles não tinham como não se interessar.
Na verdade, cabia a ela apenas escolher,
E isso ela sabia fazer.
Via um, puxava pra dançar e levava pro canto.
Trinta segundos de papo e um beijo suave
Daqueles que só quem já ficou desnorteado sabe.
Largava e se soltava.
Voltava pra pista. Mais um alvo marcado.
Mesmo procedimento.
Beijo molhado, suado e inesquecível.
Ao longo da festa, ela arrebatou a consciência de mais cinco caras.
Seus beijos eram simplesmente épicos.
Suas amigas, que nunca tinham coragem de tomar frente de situações como estas,
Ficavam no canto da festa.
Trocavam olhares com outros rapazes, curtiam a música
E sempre riam do jeito que Mariana chegava.
Cada vez mais perdida, com os cabelos bagunçados,
Os olhos de ressaca e sono e cambaleando ainda mais nos sapatos altos.
Mariana ficava um pouco constrangida quando suas amigas começavam a rir,
Mas ela era uma mulher independente demais para sentir vergonha.
Era forte demais para se sentir abalada.
Era confiante demais para se sentir inferior.
Na verdade, Mariana poderia simplesmente rir de suas amigas.
O fato é que isso não importava.
Nada conseguia parar o ímpeto de Mariana.
E quem achar que ela tá errada, não sabe o que é mulher de verdade.
Os rapazes com quem ela ficava sentiam saudades dos beijos.
As mulheres por quem ela passava sentiam inveja.
E ela rodopiava no salão,
Como alguém que não liga.
Com seu copo empanturrado de álcool na mão
E uma cabeça já quase nada sóbria.
Passavam por aí e acolá os comentários e teorias.
Conheci o nome dela assim.
Diziam que tinha mesmo que ser Mariana,
Pois "Mari não ama".
Diziam que ela beijava a mesma boca duas vezes
E, os mais perturbados por não conseguirem afeto da parte dela,
Diziam que ela tinha apagado esta parte e se alimentava do paixão dos outros.
Uma mulher não pode ter uma pausa desse tipo de coisa?
Bom,
A verdade é que isso já tinha deixado de abalar a moça.
Por um motivo ou outro, e isso poderia até ser o próprio efeito do álcool,
Ela se sentia bem fazendo o que fazia.
As pessoas mais incomodadas estavam claramente com inveja.
Por isso, passavam a vê-la como sem compaixão.
Pois bem, foi numa festa qualquer que ela conheceu.
Seu olhar era calmo e selvagem.
Seu dançar era suave e sensual.
Seus toques eram macios e excitantes.
Um beijo e a consciência dela foi pro espaço.
A moça sentiu o que nunca tinha sentido naquele momento.
Abriu os olhos meio abestalhada e o viu se afastar.
Se lhe sobrara fôlego naquele momento, este desaparecia.
Minutos depois de se recuperar, viu tudo acontecer de novo,
Mas não consigo.
Seu par beijava outra moça.
E Mariana sentou no cantinho e se deixou abalar.
Ao chegar em casa, sentou no sofá.
Ainda sem chão, olhou pela janela.
Um mar de escuridão,
Postes pareciam luz de velas.
Entrou no banheiro e olhou-se no espelho.
Ao lavar o rosto, se ergueu e proferiu:
"Mari também ama".
E foi assim que testemunhei
O nascimento de Mariama.

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